sábado, 22 de setembro de 2012

O Novo Bairro

Já estavam todos instalados na nova casa. Novas promessas da parte de todos em que todos iriam contribuir da mesma forma para uma saudável e nova fase das suas vidas. Graças aos conhecimentos do meu pai, tínhamos conseguido alugar um T3 num especial bairro social construído para hospedar sobretudo ex-combatentes franceses das diversas antigas guerras em que entraram no passado. A ideia era interessante. O problema é que um pouco mais acima se encontrava um bairro onde residiam alguns dos povos contra os quais lutaram e por sinal ainda lutavam alegre e afincadamente. Os portugueses encontravam-se um pouco à margem de tudo isto. Eram simpáticos, trabalhadores, submissos e o que queriam mesmo era ganhar muito dinheiro de uma forma rápida e eficiente. Minha primeira amizade com os vizinhos de cima aconteceu devido a um triste incidente. Minha mãe acabara de me comprar um fato de treino novo da Adidas igual ao da Selecção Francesa de Futebol. Eu estava a beira de uma descida cheia de neve à olhar para os jovens que estavam a aproveitar a neve para se divertirem quando fui empurrado. Na queda, rasgou-se o tal fato de treino novo da Selecção Francesa de Futebol em pele de Pêssego azul escuro.
Foi duro regressar à casa com uma climatização natural na coxa esquerda, enfim era só mais uma. Já tinha deixado botas novas no balneário do estádio de futebol, perdido a chave de casa ao brincar às pistolas com a mesma, partido os óculos da minha professora com uma bolada. E regularmente ouvia o lamento de uma mãe desesperada por não conseguir fazer do filho um Homem...Depois de me levantar com as calças rasgadas e molhadas fui direito ao jovem que me empurrou e lutamos por alguns segundos sem grande dedicação. Fizemos rapidamente as pazes e esses cinco irmão tornaram-se rapidamente alguns dos meus melhores amigos. Este incidente ateou o rastilho de uma aventura fantástica neste bairro que conseguia ao mesmo tempo ser triste para certas pessoas e para nós uma sucessão de aventuras mais ou menos divertidas, mais ou menos perigosas que nos levaram a nos inicializar no gosto pela marginalização. Rapidamente formamos um grupo composto de seis portugueses, um italiano e um francês daqueles que não pareciam ser franceses, porquê? porque uma das nossas diversões passou a ser damos "coças" aos franceses(os mais fracos, claro!) e ele nos ajudava alegremente, nunca percebi porquê! Certa vez estávamos, juntos, a nossa ver pela primeira um revista pornográfica em frente à minha casa quando minha mãe começou a gritar de forma histérica para eu voltar para casa e eu pensei logo e irracionalmente que ela estivesse a ver à 50 metros de distância o que eu estava lendo. Voltei com muito medo das estaladas supersónicas e fortes da minha mãe. Quando ela me explicou porque estava zangada comigo respirei de alívio tão fortemente que ela ficou ainda mais zangada comigo. Ela tinha ficado a saber que eu batera num jovem francês e que lhe tinha deixado um olho roxo e que a sua mãe ralhou com ela por minha causa dizendo que lá por ele ser órfão de pai, nós não deveríamos aproveitar para despejarmos nossa raiva nele e no seu irmão gémeo. A verdadeira razão era que tinha discutido com ele e ele chamou um nome muito feio a minha querida mãe e não lhe perdoei tal ofensa que pelo meu código de honra deveria ser sempre punida por violência verbal e física. O pior é que a minha mãe não me bateu dessa vez mas ela me infligiu o castigo mais maquiavélico alguma vez inventado. Tive de me dirigir, sozinho, à casa deles bater à porta deles, encarar uma mãe destroçada aos soluços desabafando todos os seus males e as injustiças deste mundo a frente de dois jovens tão espantados como satisfeitos por esta humilhação de ter de pedir desculpas pelo sucedido. Eu penso que vou ficar por aqui porque ainda hoje me custa falar nisto!

quarta-feira, 19 de setembro de 2012


Ao ler este belo Livro de Philip Roth de nome Némesis, pude reflectir sobre as nossos limitações humanas e sobre como Deus pode ser visto como um ser tão diferente consoante a experiência pela qual estamos a passar. É realmente importante não ceder a essa tentação pois a nossa vida, tal como a do personagem principal poderá tornar-se bastante amarga. Acabo ao deixar uma frase do livro da página 199 desta edição da D.Quixote; "Eu não sou uma pessoa de grandes convivências, Arnie. Vou ao cinema. Aos Domingos desço até ao Iron Bound e como um bom jantar português." Até já, Cris