Durante um ano ainda levei a sério o Futebol. Treinava
incessantemente. Jogava praticamente sempre na equipa principal. Gostava de
viajar, de conhecer novas cidades. Até dormíamos, por vezes, em residenciais. Mas
tratava-se de jogar na primeira divisão de juvenis com equipas muito boas. As
derrotas foram muitas e não tivemos o nível necessário para permanecer na
principal divisão.
No meu segundo ano neste escalão, fui preterido em favor de um rapaz de
origem africana muito mais alto, forte e velho do que eu. Certo dia, estávamos
a treinar quando o massagista chamou meu concorrente para lhe dizer que a
esposa estava ao telefone para o avisar de que o seu filho mais velho estava
doente…Isso fez-me perceber melhor os meandros deste desporto e de como seria
difícil para um jogador razoável, como eu era, furar neste mundo bem
complicado.
Na escola, foi na disciplina de Educação Visual que eu me destaquei
mais. A professora acreditava tanto no meu valor que, perante minha vontade de
desistir dos estudos para ir trabalhar, me pediu para tentar pedir o apoio social
da Escola para que pudesse então continuar. Mas ao chegar lá, encaminharam-me
para um homem sisudo, que olhou para mim e disse: “Não tens vergonha de te
querer tornar um chulo do estado”. Informou-me quais eram os papéis que deveria
preencher e não voltei lá mais.
Comecei então a procurar trabalho e a falar disso com a minha mãe. Ela não
concordava e estava pronta para se sacrificar (mais ainda) para que tanto eu
como a minha mana continuássemos a estudar. Mas eu estava decidido. Iria
estudar a noite e trabalhar durante o dia. Por acaso, a Igreja que eu
frequentava estava a contruir um novo templo. Ofereceram-me um trabalho
provisório como servente de pedreiro que eu aceitei com alegria pois iria ter a
companhia de pessoas que conhecia, algumas delas com a minha idade.
Foi o meu lançamento vertiginoso e ingénuo na idade adulta. Eu estava
cheio de autoconfiança, de força e de esperança que poderia ainda vir a ser um
grande construtor (área de trabalho da maioria dos meus familiares em França)
que com os lucros, poderia vir a construir moradias para os pobres, em África.
Não consigo reter um sorriso, ao pensar nisto, mas não me envergonho deste
jovem que fui; sonhador, ingénuo, ambicioso e talvez até um pouco altruísta.