sábado, 26 de janeiro de 2013

S.A.S.E. (Servicos de Acção Social Escolar)


Durante um ano ainda levei a sério o Futebol. Treinava incessantemente. Jogava praticamente sempre na equipa principal. Gostava de viajar, de conhecer novas cidades. Até dormíamos, por vezes, em residenciais. Mas tratava-se de jogar na primeira divisão de juvenis com equipas muito boas. As derrotas foram muitas e não tivemos o nível necessário para permanecer na principal divisão.
No meu segundo ano neste escalão, fui preterido em favor de um rapaz de origem africana muito mais alto, forte e velho do que eu. Certo dia, estávamos a treinar quando o massagista chamou meu concorrente para lhe dizer que a esposa estava ao telefone para o avisar de que o seu filho mais velho estava doente…Isso fez-me perceber melhor os meandros deste desporto e de como seria difícil para um jogador razoável, como eu era, furar neste mundo bem complicado.
Na escola, foi na disciplina de Educação Visual que eu me destaquei mais. A professora acreditava tanto no meu valor que, perante minha vontade de desistir dos estudos para ir trabalhar, me pediu para tentar pedir o apoio social da Escola para que pudesse então continuar. Mas ao chegar lá, encaminharam-me para um homem sisudo, que olhou para mim e disse: “Não tens vergonha de te querer tornar um chulo do estado”. Informou-me quais eram os papéis que deveria preencher e não voltei lá mais.


Comecei então a procurar trabalho e a falar disso com a minha mãe. Ela não concordava e estava pronta para se sacrificar (mais ainda) para que tanto eu como a minha mana continuássemos a estudar. Mas eu estava decidido. Iria estudar a noite e trabalhar durante o dia. Por acaso, a Igreja que eu frequentava estava a contruir um novo templo. Ofereceram-me um trabalho provisório como servente de pedreiro que eu aceitei com alegria pois iria ter a companhia de pessoas que conhecia, algumas delas com a minha idade.
Foi o meu lançamento vertiginoso e ingénuo na idade adulta. Eu estava cheio de autoconfiança, de força e de esperança que poderia ainda vir a ser um grande construtor (área de trabalho da maioria dos meus familiares em França) que com os lucros, poderia vir a construir moradias para os pobres, em África. Não consigo reter um sorriso, ao pensar nisto, mas não me envergonho deste jovem que fui; sonhador, ingénuo, ambicioso e talvez até um pouco altruísta.

sábado, 12 de janeiro de 2013

Ao chegar a minha cidade deparei-me com um mundo totalmente diferente. Parecia que o meu acampamento tinha durado anos e que regressava agora de uma terra imaginária.
Voltei cheio de vontade de mudar o mundo e comecei logo a falar daquele que mudara a minha vida. Qual não foi o meu espanto quando percebi que esta mensagem não era bem-vinda pela maioria das pessoas interpeladas, mesmo que fossem já minhas amigas.
Felizmente, a minha mãe, ao ver em mim uma mudança tão drástica também ficou entusiasmada e mais tarde numa reunião de casa, na casa duma vizinha, também ela teve seu Encontro com Jesus.
Eu percebi mais tarde que não era pela força que se deveria comunicar esta mensagem. Deveria também ser mais calmo, pois com a minha motivação por vezes excedia-me e quase magoava as pessoas que não estavam interessadas ou simplesmente não acreditavam!



O futebol deixou de ter o interesse que tinha para mim. Gostava de jogar mas a competição feroz que se vivia e o que eu costumava fazer em campo passava a ser para mim intolerável.
Comecei a frequentar o grupo dos jovens da igreja, um grupinho de mais ou menos 12 pessoas. Eu esperava um ambiente um pouco chato mas pelo contrário, apesar de sermos poucos, havia alegria, jogos, concursos e cantava-se muito. Eles chamavam isso louvor, e consistia simplesmente em reconhecer os bem-feitos de Deus na suas vidas.
Não eram jovens tão encantadores como os heróis da minha escola mas eram certamente mais saudáveis. E quando digo saudáveis, não falo só do físico mas sobretudo da saúde da alma, do espírito. Nunca me tinha sido falado da nossa "parte" imaterial. Mas tinha sentido que a vida fosse mais do que simplesmente aquilo que se vive aqui durante algum tempo. Eu costumava sonhar com a morte, nesses pesadelos imaginava meus possíveis fins repentinos. Não percebia o porquê de a vida ter um começo somente para acabar num fim tão inglório, tão seco, tão vil. Deixei de os ter e passei a ter esperança no futuro, não só aqui na terra mas sobretudo no futuro eterno que me esperava apenas por ter aceite o que Jesus conquistara por mim.
A minha irmã chegou a ir comigo também, as reuniões, mas nunca simpatizou muito; nem com a mensagem ,nem com as pessoas que a proclavam.
Começou então outra fase, o fim do encantamento, o colher imediato das minhas recentes decisões...

sábado, 5 de janeiro de 2013


Uma grande quinta. Um jardim cheio de flores. Muitos jovens. Alegria e confusão. Duas raparigas dão-me conversa. Fico logo a pensar que estão impressionadas com a minha beleza natural…


É que não estou habituado a aproximações sem interesse secundário. Não que eu nunca tivesse conhecido ninguém simpático. Não é isso. Também não estou a insinuar que todos eram "perfeitinhos". Mas percebi que eles sentiam-se livres e felizes. Tudo isto é relativo a não ser quando se vive afundado no desespero de um futuro incerto.
Brincamos, rimos, jogamos futebol. Tive minha oportunidade de mostrar tudo o que eu valia em campo quando ninguém mais estava a jogar nesse espírito…
Comemos juntos. Havia disciplina, pois tinha de ser, pois nós éramos cerca de oitenta a cem jovens.
O que me aconteceu no serão foi totalmente fora das minhas expectativas. Eu nunca poderia imaginar que acontecesse tal coisa. Meu pai era comunista e nem admitia que nós frequentássemos uma igreja qualquer que fosse. Minha mãe era católica não praticante e desiludida com o sistema. Eu não tinha bases religiosas  a não ser o que se falava por aí.
Um senhor lá à frente falava. E chegou uma altura em que as suas palavras penetraram no meu mais íntimo ser.
Ele falou no amor de Deus. Algo que eu estava a espera. Mas também falou na razão de não experimentarmos esse amor. Do facto de sermos pecadores e estarmos separados de Deus pelo nosso pecado e que Ele não podia, por esse motivo, se relacionar connosco.
Lembrei-me do meu Pai e dos seus erros. Mas também me lembrei dos meus. Antes de ir para o acampamento, tinha sido bruto com a minha irmã e bebia cada vez mais e isso fazia-me sentir mal.
O comunicador continuou afirmando que só Jesus Cristo poderia resolver este problema. Que já o tinha resolvido na Cruz do Calvário pagando o preço dos nossos erros com a sua própria vida. E que não só Ele tinha morrido mas que também tinha vencido a morte ao ressuscitar e que nos abriu assim o caminho para a comunhão com Ele e para uma Vida tão eterna como também cheia de qualidade.
O palestrante desafiou-nos a aceitar esta dádiva fazendo algo que nunca eu fizera em toda a minha vida: Falar com o próprio Deus convidando-o a entrar na nossa vida e preencher o vazio que só ele poderia preencher. O que fiz sem hesitar!
Foi realmente tremendo. Eu sei que não tem que ser assim tão tremendo para todos. Mas para mim, foi algo incrível. Toneladas de paz e alegria me preencheram.
Nunca mais fui o mesmo.
O acampamento acabou. Eu ia retornar para a minha realidade. Iria esta experiência aguentar o teste do regresso ao trapézio sem rede…