Chegamos a casa
da minha Avó. A missão foi cumprida. Estávamos salvos. Nossa Avó tinha
preparado aquela que foi a minha primeira refeição nesta nova fase da minha
vida. Nunca irei esquecer esta magnífica costeleta de porco frita com batatas
fritas e um Sumol de laranja! Até hoje e apesar de ter comido e bebido tantas
coisas bem mais refinadas que essas, o sabor deste repasto nunca sairá da minha
mente.
Instalamo-nos.
O apartamento tinha dois quartos, nós éramos cinco. Tudo estava arrumadinho e
limpinho até a nossa chegada. Os meus avós já vivam há muitos anos sós. Nós
trouxemos barulho, confusão e despesa. Eu mais do que a minha irmã e a minha
mãe. Eu tinha quinze anos, estava cheio de força, de revolta, estava intranquilo
e angustiado. Como iríamos fazer para sobreviver? Teria eu de começar
a trabalhar? Iria a minha mãe aguentar a pressão desta nova situação?
Minha irmã
sempre fora tranquila, bem-comportada, fazias seus deveres, praticava dança
clássica. Era linda, loira e fina. Meu pai chamava-a de bebé. Lembro-me de
certa vez em França, ter passado pela nossa cidade um enorme boneco (O King Kong,
mais precisamente). Ele pegava nas criança nas suas mão a partir do chão e as
enfiava na sua boca e elas desciam por dentro do mesmo até voltarem ao solo. Quando
a minha irmã viu aquilo, ficou traumatizada ao ponto de não dormir durante
meses. Minha mãe andava alarmada, “corria atrás” dos especialista a fim de
descobrir como devolver-lhe noites tranquilas. Eu, às escondidas, punha-me
atrás de um cabide, que tínhamos no quarto com cara de urso, e assustava-a gritando-lhe
que eu era o King-Kong…
Recebemos a
ajuda preciosa da madrinha de casamento da minha mãe e do seu marido, que eram
professores, para entrar na escola. Estávamos na primavera, quase no fim do ano
escolar. Mas importava, mesmo assim, ingressarmos no sistema para nos aculturar
e verificar em que ano escolar, nos iriam colocar. Minha irmã foi para o Ciclo
e eu tive de fazer um exame Ad-Hoc para verificarem se os meus conhecimentos de
Português eram suficientes para que eu pudesse ingressar na Escola Secundária.
Felizmente e graças ao trabalho da minha ex-Professora de Português que era por
sinal Alemã, eu demonstrei possuir esses requeridos conhecimentos (ou
simplesmente, por influência dos padrinhos da minha mãe, isso me foi abonado, nunca
saberei).
Chegou então o meu primeiro dia de escola na Secundária! Foi a loucura total…