quarta-feira, 22 de junho de 2016

Português em Genebra

Nunca pensei precisar de SER Português em Genebra. Por ser convencido, inconsciente ou simplesmente distraído...
O que é certo é que, depois de algumas semanas, só pensava em Portugal...
Primeiro, procurei os estabelecimentos portugueses...o café dos portugueses, a mercearia, o Clube Spor Genève e Benfica...
A bica, o Pastel de natas, o Sumol e a Visão não me saiam da cabeça...
Certo dia...dia de jogo da Selecção, tive a brilhante ideia de convidar dois amigos para ir ver o jogo ao Clube dos Portugueses. Tudo estava a correr lindamente quando, de repente...

GOLO de PORTUGAL!!!!!


E aí foi o descalabro, os meus amigos entraram em pânico, cada um ficou mais branco do que o outro! E rogaram-me que fugíssemos dali, pois, consideravam que não estavam reunidas as mínimas condições de segurança e lá vieram as avaliações, considerações que tal situação exigia...

Viver Portugal lá fora é um pouco como ter o privilégio de ter uma parte de nós próprios que não envelhece. Vive-se a Portugalidade do tempo em que os nossos pais saíram do nosso país. Se bem que para quem está cá isso pode ser motivo de zombaria, para eles, isso é assim ponto! E o desfruto dessa estabilidade é de um gozo enorme.

O meu caso é só um pouco pior, já não sou emigrante, e nunca serei como os que nunca saíram daqui...O certo talvez seria reemigrar para ter o privilégio de ser igual aos outros...

Felizmente tenho o recurso de ser um cidadão do céu pela Graça de Jesus Cristo. Faço parte de um novo Povo, um novo Reino, uma nova Identidade que não tem em conta a minha naturalidade nem a minha nacionalidade...

 

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Um campo de batalha

A turma era composta  de várias nacionalidades e naturalidades e como é claro, cada um tinha um grau de educação e formação bem diferente. Havia professores, um pedreiro, estudantes e até uns desempregados...
A lógica dos trabalhos práticos começou logo a chocar alguns de nós pois delegaram a liderança das equipas a quem tinha menos estudos ou era menos carismático. O que logo levantou protestos da parte dos que se consideravam mais adequados para a tarefa. Ainda me lembro de um engenheiro que barafustou contra esta lógica "improdutiva". Acabou varrendo folhas em cima da neve, revoltado com tamanha humilhação. Eu ria-me por dentro mas também haveria de chegar a minha vez de ser posto à prova.
Eram surpresas atrás de surpresas. O nosso director era  muito vivido e chegava para nós todos ao mesmo tempo. Era um grande gestor de projectos, de finanças e de pessoas. Esta linda casa plantada neste lindo país mas parecia, por vezes, um campo de batalha. Mas a maior batalha era travada dentro de nós. Tudo era concebido para moldar o nosso carácter, para aprendermos a obedecer deixando os "achismos" de lado e os nossos sonhos afim de que vencesse o trabalho em equipa em vista de um alvo comum.

Eu lutei bastante com uma coisa extremamente simples e que nenhum dos meus colegas conseguiu compreender ou que eu nunca fui capaz de explicar. Revoltava-me com a opinião deles de que a priori, eles tinham de estar logo mais certos do que nós, os latinos, porque os seus países demonstravam essa verdade pela sua situação de riqueza a todos os níveis.  Ele achavam estranho a minha atitude e alguns até manifestavam o seu espanto visto que nunca tinham conhecido, até a data, um português que discordasse ou que não fosse super simpático e obediente. Só o facto de eu discordar irritava-os. Acabei por deixar de dar as minhas opiniões e optar pela hipocrisia do "está tudo bem!" como eles tanto gostavam.
O meu primeiro grande desgosto ia no sentido de me aperceber de que as origens e as classes sociais tinham tanta importância no corpo de Cristo, a Igreja. Lá no meu grupinho de jovens, no Algarve, nós éramos todos iguais mas parecia que isso, afinal, não era bem assim...
A justiça de um homem, o nosso director, norteava a minha vida na escola. Como é possível existirem pessoas que, por amor a Cristo, se sujeitam a este desafio que é fazer discípulos até mesmo com pessoas tão tortas como eu era e sou!

sábado, 4 de junho de 2016

Genève!

É difícil descrever uma cidade como Genève. Nem me vou arriscar a dar uma descrição fidedigna desta cidade pois tenho a certeza de que não seria capaz. Ainda por cima, eu tenho uma  aproximação das coisas mais intuitiva do que factual.
Gostaria então, simplesmente, de transcrever o que eu senti durante os primeiros dias nessa linda cidade.
Logo no início das aulas, fomos visitar locais históricos como o monumentos dos reformadores, a bíblia impressa mais antiga do mundo, a igreja em que pregou Calvino e a Universidade de Genève...


A sensação era excelente. Parecia que estávamos a viver dentro de um postal. O ambiente era diferente. Tudo muito arrumado e educado.
Mas, no que dizia respeito ao que me levava ali, nada... Só aí percebi como o protestantismo realmente passara para a história. O seu espírito, o espírito da reforma constante, da inconformidade com os interesses humanos, que vão contra a Palavra de Deus, nada...
Tudo muito "arrumadinho", tudo muito classificado, tudo muito resolvido. Era uma espécie de museu ao ar livre em que as ideias se resumiam a preservação do que fora deixado.
Felizmente, na Escola Bíblica em que estudávamos não era assim, mas chocava-me perceber que nós representávamos uma gota de água no meio de um oceano de tradição e acomodação.
Cheguei a falar posteriormente com idosos da Suiça Alemã que consideravam Genève a "Prostituta da Suiça" pois eles afirmavam que se estava a vender em troco de riqueza através dos seus bancos, do seu comércio de luxo e do seu turismo à custa dos valores que não mais defendia!
Mas continuava a ser impressionante a ética que ainda se auferia devido ao passado glorioso desta cidade. Quando começamos a perceber a lógica dos impostos, da exigência, do rigor e o que se ganha com isso, passamos a não ter muita vontade em voltar para o nosso caos latino!
Mas eu não me sentia bem em deixar Portugal, era como se estivesse a vender-me, também eu. Não fora isso que me trouxera por cá. E então, rapidamente, entramos no Estudo profundo da Palavra de Deus e no serviço cristãos sob todas as suas formas com vista à transformação do nosso carácter...