quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

O Casamento

Não sei bem explicar o que aconteceu no dia do meu casamento. Imagine um velho PC a tentar processar a informação de um jogo recente! É um pouco isso mas com 22 anitos...
Deus não nos prepara sempre para as coisas que nos acontecem, sejam elas boas ou más. Eles simplesmente lidera a nossa vida, quando nós deixamos...
Foi com certeza uma grande revelação do amor de Deus na minha vida. Quinhentas pessoas amigas envolvidas numa festa linda. Há coisas que de tão bonitas que são, não podem ser descritas. Por incrível que pareça, não sinto a necessidade de descrever exaustivamente este momento. Porquê? Por várias razões. Por não conseguir explanar o amor de Deus em cada pequeno acto dos meus familiares, amigos e irmãos em Cristo no nosso casamento. Por não conseguir descrever a beleza da minha esposa, nesta tarde. Toda a sua beleza exterior assim como a sua beleza interior. Não consigo descrever a gratidão do meu coração por ter vivido tanta emoção.
Algo impossível tornar-se-ia verdade. Eu difarçava demonstrando que estava super á vontade e que tudo era natural para mim.
O Abraço do meu sogro quando me entregou sua filha foi indescritível. Tão indescritível como o beijo que a minha esposa me deu no altar. A noção do tempo esvaiu-se e esse momento era eterno! Chão sagrado!
Uma etapa da nossa vida se acabara, outra bem diferente estava a começar. Se o céu era o limite, o chão, por outro lado, fugia-nos dos pés.
As lágrimas de alegria no rosto dos nossos companheiros testificavam a intensidade do momento. Compreendo os povos que festejam durante três dias. Eles têm razão. Vale a pena. Tem todo o sentido.  Só o dia em que fui encontrado por  Deus e os dias em que os meus filhos nasceram foram tão importantes para mim. Nenhuma conquista escolar, laboral ou mesmo religiosa pode igualar tais momentos da minha vida.
Mesmo assim, estava a milhas de perceber o que era tornar-se uma só carne! Talvez para o homem, isto seja o maior desafio da sua masculinidade...O cowboy solitário dá lugar uma pessoa formada por duas pessoas. Talvez seja a experiência que melhor nos poderá explicar a Trindade. Deus Pai, Filho e Espírito Santo. Três pessoas, um só Deus!
O Casamento catapultou-me definitivamente para o trascendente! Os meus recursos seriam para sempre insuficientes e mesmo desapropriados.
Felizmente a promessa de Deus  de que estaria connosco até a consumação dos séculos nos acompanhava, nos consolava e nos enchia de uma ousadia que, vista pelos olhos humanos, só poderia ser considerada louca, infundada e digna de pessoas mal formadas e informadas
Eu termino rendendo a Glória a Deus por tudo o que nos deu e honrando os nossos Pais que lutaram por nos educar. Eles nos amaram com palavras mas sobretudo com actos e sacrifícios que, só agora e em parte, sabemos qualificar e quantificar.

domingo, 13 de abril de 2014

As surpresas no preparo

Chega a altura em que sentimos que é a hora. Depois de quatro anos a namorar. Temos então de começar a nos preparar para o próximo passo. É aí que a porca torce o rabo. Uma coisa é ter uma família normal e pensar dar este passo, o que era o caso no caso da Cristina. Mas o meu lado era bem mais complicado. Deveria eu convidar o meu pai, seria ele capaz de se portar convenientemente ou iria ele beber demais e trazer confusão ao momento mais romântico da nossa vida...Conversamos muito. Pedimos orientação a Deus...Mas não nego que fiquei por vezes inseguro, sem saber o que fazer. 
Não tínhamos dinheiro. Minha mãe também não. E achamos que não seria justo existir todo o esforço da parte da família da Cristina, então...começamos a avisar a malta de que o casamento iria ser só para a família e que só convidaríamos familiares e alguns amigos mas aconteceu algo inesperado. Foi-nos sugerido fazer um almoço do tipo Canadiano, pelo menos era assim que era chamado este tipo de almoço no nosso meio, nunca percebi porquê. Cada família traria a comida suficiente para os seus. Juntaríamos toda a comida num armazém e faríamos assim um festa de arromba acessível a todas as pessoas que quisessem participar. Ouve uma espécie de comissão que se levantou para organizar o tipo de comidas que cada um traria, as bebidas como também os jogos que seriam propostos, enfim, ficamos sem palavras. Há alturas da nossa vida em que os acontecimentos da nossa vida, quer sejam eles positivos ou negativos, nos deixam sem resposta, sem jeito, sem palavras...

Claro que os meus sogros não se ficaram pela coisae ofereceram o aluguer do armazém, camarão e carnes grelhadas a discrição com assador profissional na grelha. Amigos escolhidos estrategicamente ficaram no bar, pois iria haver bebidas alcoólicas também, mas a sua tarefa seria impedir as bebedeiras! Só faltou os detectores de metais a entrada!...
O que é certo é que não fiz grande coisa. Gostaria de citar nomes de pessoas que ajudaram bastante mas correria o risco de ser injusto para alguém...
Hoje entendo algo, ao olhar para o passado, não sei como isso é chamado na ciência...mas sei que existiu e existe em mim. Desenvolvi uma forma de me proteger da violência na minha infância que consistiu em alhear-me das situações, refugiando-me no mundo dos sonhos e dos pensamentos. Esse escape passou a ser uma norma que me impede-me lembrar quantidade de coisas que aconteceram e acontecem. Um pouco como se se me lembrasse de forma selectiva, mas involuntária, dos momentos mais emotivos da minha vida. 
O importante para mim é perceber a Graça de Deus neste processo quer directamente, quer através da minha família física e também espiritual.


sábado, 5 de abril de 2014

Antes de dizer sim

Casar era palavra proibida na minha mente devido a experiência dos meus pais. Eu pensava: "Porquê casar para ser infeliz e tornar infeliz a pessoa com que se vive?" mas como é evidente, depois de conhecer a Cristina, tudo mudou!
Tivemos o privilégio de namorar longe um do outro e de poder falar bastante ao telefone de tudo o que nos passava pela cabeça. Mais também também fomos aconselhados, e já depois de sermos oficialmente noivos, recebemos aconselhamento pré-matrimonial. Foram momentos preciosos em que um casal mais velho e responsável da nossa igreja local nos compartilhou a sua experiência e a vontade de Deus para o casal cristão. Falava-se de tudo sem preconceitos; da vida sexual, do relacionamento com os futuros sogros, da educação dos filhos... Contrariamente a muitos casais que conhecíamos, discutíamos bastante...realizávamos a nossa diferenças de opinião, de expectativas, de gostos até.

Foram quatro anos muito lindos mas também muito atribulados. Viagens constantes de Olhão para Vale Judeu, de Citroen Diane que acabei por trocar ( com a ajuda dos meu sogros) por um Renault 5, isto depois de não ter conseguido fazer uma subida bastante inclinada na companhia da minha querida sogra...
É incrível como os homens são nestas alturas. Parecia que não tinha limites, imaginava-nos com um futuro brilhante na frente, com muitos filhos (13, no meu caso! Que loucura!). Isto contrastava com os avisos dos nossos conselheiros que nos exortavam a ter cuidado com as expectativas e os sonhos! Ensinaram-nos a gerir o ordenado, a carreira e a vida na sociedade e até a rotina...Eu ouvia com atenção, mas não conseguia acreditar, de coração, em tudo o que me diziam. Seria possível haver tanta necessidade em vigiar sobre tantos aspectos das nossas vidas...Eu achava que o amor iria cobrir tudo isso. O amor e a fé em Jesus Cristo, genuína e viva supriria qualquer empecilho.
Após quatro anos de namoro, criei coragem e pedi a minha namorada em casamento. De repente, foi como se o céu se abatesse sobre a minha cabeça, porquê? Acho que foi o peso da responsabilidade misturada com uma repentina insegurança. Estávamos a aprender tanta coisa sobre a vida. Víamos tanta gente a falhar, gente má e boa, gente que não gostávamos e gente que admirávamos...
Novamente tive de lembrar que, como Cristão, deveria avançar com base na ajuda e no poder de Cristo e não com base nas minhas capacidades! mas vá dizer isso a um puto de vinte e tal anos...

sábado, 4 de janeiro de 2014

O Cancro

Sempre conheci a minha mãe com problemas de saúde, mas agora era diferente...Ela estava com o ar mais grave, estava mais pensativa. Por incrível que pareça, não me lembro do dia em que ela me comunicou que estava a começar a ser tratada a um cancro e que era provavelmente daqueles mais graves! Só me lembro de ter feito, na casa de banho, em meio a lágrimas, uma oração...daquelas "parvas" que fazemos e em que dizemos coisas irreflectidas, mas cheias de sentimento e sentimentos...
"Deus, se curares a minha mãe, eu oferecerei a minha vida para a tua Obra!", como se pudéssemos manipular Deus! Com algo de que Ele gosta. Como se essa não fosse a nossa obrigação independentemente das circunstâncias nas quais nos encontramos. Felizmente eu sei, hoje, que a Misericórdia de Deus se renova cada manhã e que a sua Graça e o seu Sangue são suficientes para cobrir toda a minha tontice!
Foi uma caminhada estranha, daquelas que nunca se entranham. Foi como que entrar num deserto sem mapa. Foi o início dum Curso, daqueles que somos obrigados a frequentar, daqueles que não dão Status à não ser o de "Coitado", "Pessoa sem sorte" ou "Fraco".
Minha mãe tomou a decisão de avançar, de não se queixar. Ela gostava de ir passear para o mar. Nosso passeio favorito era ir lentamente, de carro desde Bias do Sul até à Fuzeta, por aquela estrada bem velhinha que tem, talvez, uma das vistas mais lindas do Mundo só igualável, quanto a mim, com a vista dos Alpes Suiços. 


Minha mãe dizia que o que mais lhe custava era a forma como era tratada por algumas pessoas e não propriamente a doença em si. Eu bem via que não era fácil. Quando voltava da quimioterapia, deitava-se, fraca, com dores imensas até recuperar o ânimo para tratar da casa, para tratar de nós, para continuar a trabalhar, ir a igreja, ir a praça...
Eu não me lembro de ter feito algo mais para ajudar durante a doença, a não ser palhaçadas para fazê-la rir, talvez a minha irmã o tivesse feito. Não compreendo a capacidade das Mães para sofrerem caladas e com o sorriso. um sorriso que falar sem articular, que desabafa sem se queixar, que tranquilizar sem alarmar. Ser mulher não é para qualquer um!
A igreja começou a juntar-se em oração, começamos a ser ajudados por algumas pessoas, mas tenho pouca recordações nítidas desse momentos, a memória ajudou a esquecer não fazendo o seu trabalho.
A falta de lucidez era notória em mim. Acho que começou durante o tempo em que minha mãe estava a ser sujeita à violência doméstica. Permitiu-me não sentir tanto o que se passava a minha volta. Mas com ela, vieram outros problemas dos quais só mais tarde eu viria a me aperceber...