sexta-feira, 22 de julho de 2016

O meu professor preferido

No meio de tanta gente, era natural que eu me identificasse mais com algumas pessoas. Neste caso, foi um professor que era um autêntico bálsamo para a minha vida.
Ele sabia do que falava mas o que mais nos maravilhava eram os seus exemplos de vida, exemplos das suas experiências na implantação de Igreja. Encontros com todo o tipo de pessoas, passos de fé, inícios de novas igrejas na França profunda onde a cultura pouco mudou, onde parece que o ar que se respira ainda é medieval. Onde se fazem festas nos bosques e onde a bruteza do povo é tão desagradável como agradável é a sua autenticidade.
Ele e a sua esposa expunham-se a incursão perigosa, nas sua fragilidade e na consciência da força do seu Deus e do seu amor e interesse em reconciliar-se com a sua Criação.
Mas como se chega aí, lembro-me de que tudo começou com um acto de rebeldia, deixara sua família e na altura dos hippies andou por aí perdido, já depois de ter tido uma experiência com Cristo.
Um dia, em plena Ásia, um missionário amigo do seu pai encontra-o completamente perdido e lembra~lhe quem ele é e trá-lo de regresso à casa. 
Nada será mais como antes, ele entregou a sua vida como servo de Deus, e na companhia da sua fiel, firme e forte esposa, começa a sua grande aventura. Algo que me tocou imenso é que desde o início, sua irmã será uma das principais responsáveis pela sua manutenção financeira nesta obra.
A Fórmula era simples, todos os dias, Tempo com Deus e a Sua Palavra e trabalhos práticos e à tarde saia por aí e procurava as ovelhas perdidas, Mas não sou ele evangelizava como também recebia pessoas em casa, com problemas diversos, durante algum tempo, tempo de reencontrarem o seu caminho com Deus e o seu caminho na sociedade onde viviam.
Chegou a hora de escolhermos o professor com quem faríamos o nosso estágio e antes de me dirigir a ele, no dia seguinte, pedi conselho ao amigo da turma com quem viera de Portugal, Ele achou interessante a ideia. Mas quando no dia seguinte me dirigi ao professor manifestando o meu desejo, descobri que o meu amigo já tinha falado com ele alguns minutos antes e acertado então, o estágio...Fiquei a saber anos mais tarde que esse amigo achou a experiência totalmente desinteressante e eu nunca percebi por que isto tinha acontecido mas no entanto eu sei que nada foge ao controlo do meu Salvador e Senhor! Mas que doeu, doeu!

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Eu irei e te obedecerei!

O Ensino que recebíamos era cru e nu. Não se tratava de formar intelectuais da religião, filósofos ou pregadores amantes de teologia sem Deus. O Objectivo era amar e servir Deus no meio das coisas pequenas e nos contextos mais inusitados.
Certa vez, perante as nossas mais diversas e tolas teorias que assentavam na meritocracia dos missionários,o director da escola contou uma história. Era a história de dois amigos que tinham estudado juntos numa escola bíblica para poderem servir à Deus, um deles tornou-se um pastor e um grande pregador para multidões, o outro foi servir numa pequena tribo num lugar remoto e fora logo morto pela mesma. 
"Qual terá sido a falha?" perguntou o nosso director. Sucedeu-se um grande debate, uns defendiam a falta de oração, outros a falta de estratégias, enfim, depois de defendermos todos os nossos argumentos ele explicou que os dois tinham sido fiéis e tinham cumprido a vontade de Deus nas suas vidas e que não poderíamos medir o sucesso da maneira como ele é medido no mundo empresarial ou associativo. E passou a citar exemplos de servos e servas de Cristo que não conheceram o sucesso como não estávamos habituados a defini-lo. Homens e mulheres que era perseguidos, ignorados, desprezados, humilhados por amor a Cristo. O desafio era morrer para o espírito heróico de Hollywood e "experienciar" o Espírito de entrega abnegada vivida por Cristo entre nós.
Um silêncio frio se instalou na sala, incompreensão e mesmo alguma não aceitação desse discurso que nada tinha a ver com os nossos megalómanos planos de "conquistar" o mundo para Jesus...
Seríamos nós capazes de pastorear um pequeno rebanho de pessoas humildes na França profunda, ser perseguidos por pregar a verdade numa igreja que se considera inovadora, ser perseguidos numa cidade muito religiosa, ser abandonados pelos que amamos por ser "fundamentalistas", deixar os que mais amamos por amor aqueles nem percebem o nosso amor...
Voltamos para os nossos quartos cientes do carácter único deste discurso, faltava-nos fazer as contas da obra que nos esperava afim de ponderarmos se o preço a pagar era, por  nós, suportável.
Agora percebia porque um velho amigo meu dizia que mentíamos muito durante os cânticos quando dizimamos, " Eu te seguirei", "te obedecerei", ele dizia que éramos todos como Pedro, que afirmou que mesmo que os outros deixassem Cristo ele permaneceria fiel e acabou por negá-lo três vezes...
Eu, um dos meninos bonitos da minha congregação, ainda tinha muito que desaprender afim de começar a perceber o que era seguir a Cristo por Cristo! Essa aprendizagem numa mais terminou...

sábado, 2 de julho de 2016

Geração de Ouro

Nenhum professor vivia exclusivamente do ensino. Eles provinham do terreno. Eram pastores, missionários ou simplesmente líderes de algum ministério nas suas igrejas locais ou organizações.

Mas aqueles, os mestres, que marcaram ainda mais a minha vida de estudante eram os idosos da primeira geração do nosso movimento; uns tinham sido missionários em Marrocos onde foram perseguidos por pregar o Evangelho (um até foi mesmo esfaqueado na mercado), outros tinham estado no Nepal, ainda outros em vários países de África Negra, enfim, os relatos desencadeavam-se num frenético, emotivo e engajado discurso que seria digno de zombaria em qualquer das igrejas suíças daquela altura!

Que maravilha ser exortado por aquela linda Senhora que me apontava o dedo em sinal de ameaça dizendo que quem põe a mão no arado não deve voltar para trás!
Eu ouvia embasbacado tudo aquilo. Eles agora estavam a tirar um curso sobre como "Saber morrer"; isto é, como tratar das coisas da melhor de forma com vista a deixar as suas famílias em paz; as heranças, os litígios, o pagamento dos seus próprios futuros enterros, que amor!...

Na nossa escola vivia um casal de ex-missionários, ele tivera sido,também ele, filho de missionários que o deixaram num orfanato afim de irem evangelizar o Nepal.
Porque sofrera muito com isso e depois de ser por sua vez missionário em África, deixara esse continente para vir educar a sua filha e não fazer com ela o que tanto o fizera sofrer.
A ironia da vontade de Deus quis que quando ela chegou a maior idade, quis ser missionária também ela imaginem onde?...Em África! Ele ficaram cá ajudando em tarefas práticas na propriedade pois não possuíam sequer uma casa para acabar a sua vida...Quando estávamos tristes, eles nos consolavam, e diziam muitas vezes que aprenderam a amar e a viver com o povo africano!

Hoje, quando olhe para o panorama dos ministros de Deus, vejo o quanto Deus é defraudado; Passamos de servos à vedetas, de escravos de Cristo à gestores de organizações e recursos humanos, orientamos nossas carreiras, futuros e até reformas muitas vezes muitas acima da média da Igreja Local...