sexta-feira, 27 de maio de 2016

Choque inesperado

Eu achava que por ter nascido e vivido 15 anos em França, eu estaria preparado para o que aí vinha. Nada disso! A Suiça não tem nada a ver com a  França, ou melhor, a Suiça de 97 não tinha nada a ver com a França de 1972 à 1987! Ah pois é.
É tremendo como nós construímos as nossas cosmovisões sem darmos por isso. Eu todo confiante de que, lá na Suíça, seria fácil, muito mais fácil do que acolá; na África, na Ásia ou na América do Sul...Mas não, nada disso, não tinha muito de francês e muito menos de Suíço e ainda menos de pessoa de "boa educação"...
Eu pretendo que fui bem educado pela minha querida mãe, Dona Maria Celina Pereira do Cerro, mas faltava algo, e ainda bem, a preparação para a educação hipócrita do "fica bem dizer" em vez de dizer o que nos vai na alma com amor!
Fonix, tanta regra, dentro e fora da escola. Impostos até para usar rádio! Imaginem, o director veio ter connosco a comunicar que as autoridades tinham DESCOBERTO(como se alguém estivesse a esconder...) que nós estávamos a usar um mero, pequeno e débil rádio...estávamos a fugir a um imposto! Tínhamos de pagar um taxa, tal como também teríamos de pagar uma taxa para usarmos uma bicicleta na via pública...
Encontramos, um dia nas festas de Genève, um rapaz de nacionalidade Brasileira que afirmou que fora multado de toda a sorte de multa que poderíamos pensar ou imaginar e as quais, ele nem seria capaz estipular ou mesmo até de enunciar! 
Não foi fácil perceber a lógica deles, mas claro, como bom Português, ao fim de alguns meses, entramos na ordem das coisas deles, à maneira deles mas sem as tradicionais "abébias" que nós costumamos dar em Portugal quando eles precisam de ajuda...
Tudo muito racional, tudo muito santo, e nós cada vez mais a pensar...o que é que nós fazemos aqui...
Para vos dar um pequeno exemplo; a Cristina, certo dia , tinha de ir pôr a roupa a lavar  na cave da escola, mas ela tinha o nosso Samuel de dois anos no colo e umas escadas íngremes para descer. O que era óbvio fazer, para ela, numa situação destas, levar o cesto de roupa até lá, depositá-lo e voltar ao quarto para ir buscar o nosso menino afim de não o deixar sozinho. 
Nada disso, estava tudo errado, apreenderam o cesto de roupa por exposição indevida de roupas íntimas, enquanto fora busca o menino e ficou apreendido até novas ordens!
Eu sei, não sou melhor que ninguém mas como dizia a nossa Amália: "Estranha forma de vida", neste caso, eu percebi que nunca percebera o que passaram os meus pais nestes países "iluminados" e esquecidos de que também eles foram alvos da Graça de Deus em certa altura...

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Ao chegar à Escola Bíblica, batemos a porta da mesma. E nada...nada e por fim, um homem de baixa estatura veio à porta e nos recebeu dizendo que iria falar com a responsável para nos encaminhar até aos nossos novos aposentos.
Eu tive pena do senhor. De cabelo grisalho, coxeava acentuadamente. Enfim, de resto, tudo muito tranquilo e até austero. Esperamos até que que uma jovem Senhora nos levasse até ao último andar, no sótão do lado direito de uma lindíssima casa do Século vinte, acomodado para receber um casal, construída pelo fundador H.E. Alexander que, após o "despertamento" de Gales viera para Genève e aí se instalou para posteriormente fundar um movimento que haveria de ter o nome de Action Biblique, isto é Acção Bíblica. Este movimento não visava criar igreja alguma mas somente expandir o evangelho pelos quatro cantos do mundo.

Na altura em que  chegávamos. A Acção Bíblica já não tinha poder social e económico para manter uma escola com tamanha envergadura. Fora então criada uma "aliança de sal" entre várias igrejas suíças e francesas de modo a formar, por meio desta escola, servos afim se partirem para o contexto francês como pastores, missionários e colaboradores de pequenas igrejas nascentes num país em que o ateísmo e os espiritismo ainda eram dominantes.
Era difícil escaparmos ao encanto deste meio em que os verde da paisagem contrastava com o castanho dos esquilos e o vermelho dos Ferrari que passavam à nossa frente, pois a escola fora implantada numa área agrícola e pobre de Genève e ficava agora cercada por um campo de Golfe e uma bairro residencial de Luxo que contratava imenso com os nossos humildes desafios...
O Homem de baixa estatura que nos viera abrir  a porta era nem mais nem menos do que o director da Escola. A minha pena logo se transformara em vergonha ou pelo em menos em desconforto pois sabia que tinha acabado de confundir um recepcionista com um homem que já fora Director de uma Universidade em Paris, um grande líder da Operação Mobilização e o responsável por grandes movimentos de evangelísticos em toda França!...

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Papa Cerelac

Nossa viagem para a Suiça correu bem. Fomos acompanhados por um casal suíço que estava de férias em Portugal e que também iria estudar na mesma Escola Bíblica que nós. A única diferença é que eles tinham um belo Volkswagen Passat e nós lá íamos com o nosso Peugeot 205 com 900 de cilindrada, um bebé e muitas bagagem!
Nossa chegada à fronteira foi logo muito engraçada. Imagino os funcionários da Fronteira Suiça ao verem chegar o nosso carro com o rabo quase a tocar no chão e a dianteira a apontar para o céu carregado que nem um ovo Kinder e um barbudo escuro ao volante!
Enfim...escusado será dizer que nos mandaram logo parar e que nos obrigaram a ir para uma sala afim de descarregar e abrir todas as nossas malas. Até nos pediram para separar os pares de meias. A coisa estava feia.

Senti-me logo bem acolhido. Ainda por cima, tinha tido uma ideia fantástica. Levamos muitos pacotes de papa Cerelac e para ocuparem menos espaço, retiramos as caixas de cartão e pusemos apenas o sacos cor alumínio dentro de uma mala de executivo. Imaginem...o olhar do guarda...parecia que ele já visualizava a sua promoção e o título dos jornais "Guarda fronteiriço apreende uma enorme quantidade de droga com proveniência de Portugal". Ele perguntou o que era aquilo. Eu respondi que era Cerelac e perguntei-lhe se queria provar. Garanti-lhe que era muito saboroso e que pertencia à Nestlé. A graça não produziu o efeito desejado.O ambiente ficou tenso e ordenou-nos de recarregar tudo sozinhos e rapidamente. Foi um grande desafio, nós cansados de uma viagem de dois mil e tal quilómetros, ainda por cima que cada coisa tinha sido meticulosamente encaixada como se estivéssemos a jogar ao saudoso Tetris. Agora o carro parecia um ovo Kinder, só que já mastigado!
Fui mandado parar tantas vezes naquela fronteira que, ao fim de alguns meses, quando lá passava, os guardas já se riam e faziam-me adeus.
Nossa primeira experiência neste lindo país fora prometedora,o que mais nos iria acontecer...

domingo, 15 de maio de 2016

Watchman Nee

Tive um encontro, numa das minhas leituras adquiridas na biblioteca da minha igreja local, que originou uma mudança definitiva na minha vida.
O autor tinha por nome Wachmann Nee. Não vou tentar apresentar-vos o personagem. Apenas posso explicar que tudo o que já sentia estava escarrapachado nas folhas dos seus livros. Claro que muita coisa, com certeza, passou-me ao lado mas algo permaneceria para sempre; A Palavra de Deus era tão manipulada por nós como pelos nossos "inimigos".
Ele tivera, na altura, na china, de combater pelo Evangelho como também contra o poder dos missionários estrangeiros que vinham evangelizar e também, em certo sentido, "colonizar" o povo chinês da altura.
Este homem levava literalmente coisas como o facto de a Igreja de Cristo não poder ter nome, denominação ou dono. Mas, na realidade, o que acontecia no seu país diferia muito desta verdade.
Aqueles que tinham a Palavra e a moeda forte mandavam e desmandavam sem ter em conta os de lá.
Isso trazia grande conforto à minha alma que ficava confusa com tantos nomes de igrejas e tantas opiniões verdadeiras.
Jesus que deixara, dizemos nós, a sua Palavra Divina optou por não especificar tanto como nós a côr da nossas congregações.
Paulo dirigia-se à Igreja de Cristo que estava na tal ou tal cidade e não à Igreja X que está mais certa que a Y, que tem melhor doutrina e melhor estratégia ou mesmo até pessoas mais cultas ou santas...
Horrível me foi observar, na altura, que Watchman Nee morrera só! Aí percebi algo que me gelou o coração. Tanto os corruptos líderes têm culpa como o corruptos seguidores que têm por único alvo seguir e manter uma religião que não passe de um clube e que não os confronte às verdades de Cristo.
Mas, no fundo, eu tinha a esperança de que Esse irmão estivesse apenas a colher os frutos de uma semente demasiada extremista, pois ele achava que deveríamos deixar as igrejas oficiais afim de nos reunir em casas, informalmente, deixando que Deus conduzisse o seu povo de uma forma relacional e não institucional.
Sempre foi um desafio enorme, para o povo de Deus, depender apenas do seu Deus e não de substitutos, sejam eles religiões, deuses, amuletos e afins...
Viver apenas pela fé em Jesus, pelo seu Evangelho apenas, por amor dos mais fracos apenas, sem ter como alvo o "progresso humano" e o " sucesso religioso". Diminuir afim de que somente Deus fosse o alvo e a origem da glória no meio daqueles que se auto-nomeiam de Cristãos...