sábado, 21 de dezembro de 2013

O Senhor Proença

O Senhor Proença era especial. Estava na reforma. Tinha tempo para nós. Gostava de conversar. Gostava de cantar com a sua voz tipo Ópera. Era um revolucionário! um inconformado!
Sempre tive tendência para me juntar a essas pessoas. Se calhar porque são parecidas com o meu pai, meu falecido pai...
O Senhor Proença percebia muito da Bíblia! Muito mesmo. Não dava muito hipótese de metermos uma opinião mas deixava-nos desabafar sobre a nossa vida, ouvia-nos. Sempre que chegava de Sintra, ele nos oferecia uma caixinha de queijadas que eu aprendi a gostar com ele!

Percebi ao fim de algum tempo que ele não era uma pessoa consensual. Mas eu não conseguia ver nele algo que me fizesse concluir que ele não era uma pessoa de bem. Tudo que estivesse ao seu alcance no sentido de ajudar era feito, sem necessidade de marcações, horários específicos...Ajudou na construção da nossa Igreja sem cobrar nada pelo seu trabalho em carpintaria.
Ele não escondia as suas frustrações pessoais e desabafava os erros que tivera cometido ao longo da sua longa vida.
Aprendi com ele a aproveitar as boas coisas da vida, mesmo sendo cristão. Eu não tive o exemplo de um homem cristão em casa. Não soube o que era ser um pai, um marido cristão fora das reuniões. Percebi com ele que poderíamos rir, comer, beber e passear na  mesma mas de uma forma sã que agradasse ao nosso Pai.
Ele só tinha um "problemazito", falava demais em certas sítios em que isso não era bem aceite...ma isso nunca retirou em mim o valor da sua amizade.
Ele ficou muito doente quando ainda me encontrava a estudar em Lisboa no Instituto Bíblico( Sítio em que também ele ajudou bastante). Tive a possibilidade de o acompanhar algumas vezes nos seus tratamentos, de visitá-lo no lar...ele deixou de conseguir falar com a boca, mas os seus grandes olhos continuavam a comunicar bastante.
Foi com ele que percebi ou melhor que comecei a perceber que existe um caminho cristão diferente em que nós podemos andar só por veredas, sem público, ou com público hostil.
O cristianismo de hoje, nos países ocidentais é muito condicionado pelo consenso a todo o preço, já não temos paciência de ouvir opiniões diferentes, consideramos que ter uma opinião diferente não é ser positivo.
Como está escrito, os nosso ouvidos já não suportam certas verdades.
Corremos o risco de viver para os "Likes" do Facebook mais do que para os "Servo bom e fiel" de Deus"!
Jesus passou por isso tudo durante três anos até ser morto, por não ser consensual, agradável e positivo! Mas é o seu sangue que fez e faz de mim um Novo Homem que, mesmo tendo ainda muito para aprender, já possui uma Nova Natureza que irá ter o seu pleno desabrochar quando eu estiver na Casa do Pai com o meu amigo Proença.

sábado, 12 de outubro de 2013

Momentos de Impacto Profundo

Foi uma grande aventura! Abria-se a oportunidade de viajar para Genève afim de podermos não só passear por toda a Suiça como também assistirmos as Conferência da Páscoa destinada aos jovens da nossa Igreja de toda a Europa. Ainda por cima com a minha namorada! Foi muito bom. Visitamos as principais cidades Suiças. Fomos conhecer as montanhas desse tão belo país. Fizemos "Sku" com sacos de plástico preto pois ninguém tinha material para o efeito. Foi tão excitante que um Senhor com o equipamento completo veio pedir-nos para experimentar a nossa técnica!
Conhecemos a Escola Bíblica de Genève. Um linda e antiga escola  mas muito bem conservada, com um jardim imenso, um campo de voleibol e uma grande sala de conferência. Foi aí que de se desenrolou a conferência; Havia músicas de quase todos os continentes, vários comunicadores nos comunicavam temas com base na Bíblia, havia workshops sobre temas interessantes e úteis para as nossas idades. Fizemos, como é óbvio um jogo de futebol entre Portugueses e Suíços que nós ganhamos, como se fosse o jogo mais importante do mundo...
Mas o que mais me impactou foi a mensagem que nos foi transmitida sobre Missões. Fiquei ao mesmo tempo aterrado e motivado. Mas sobretudo, eu percebi claramente que aquele era o plano de Deus para mim! Foi feito um desafio  no sentido de aceitarmos o desafio de partir para missões onde Deus nos chamasse. Eu me levantei, nesse dia, com esse propósito e fui ter (eu e dezenas de outros jovens) ao estrado afim de receber uma oração de entrega da parte do Missionário que estava a falar.
Nunca mais me esqueci desse momento, ele transtornou os meus planos de futuro. O que interessava agora já não era ser jogador de futebol ou qualquer outra coisa que tivesse por objectivo o sucesso, mas simplesmente falar do Evangelho a toda a "criatura" em qualquer parte do mundo!



quinta-feira, 3 de outubro de 2013

PaGhod: Casa Branca

PaGhod: Casa Branca: Cada vez passava mais tempo em Vale Judeu. Meus sogros tinham uma residencial com piscina e jardim. Era muito acolhedora e recebia principa...

Casa Branca

Cada vez passava mais tempo em Vale Judeu. Meus sogros tinham uma residencial com piscina e jardim. Era muito acolhedora e recebia principalmente família que estavam de férias. Passamos lá tempos de convívio, trabalho e aprendizagens variadas.
Eles recebiam clientes e visitas de muitos países. Tínhamos oportunidade de conhecer outras culturas sem ter a necessidade de sair do país! Era tremendo para mim. Falava-se em Português, Francês e Inglês principalmente, o que me permitiu dominar melhor qualquer uma das três.
O meu sogro era um formador que conseguia ao mesmo tempo trabalhar, ensinar e aconselhar! O que é raro nos homens. Ele foi o pai que eu não tive. Ríamos, discutíamos de forma aberta e educada, o que eu não conhecera antes.


Minha sogra era a "Mulher de armas", sabia ser simpática e hospitaleira e ao mesmo tempo dura e impunha a ordem na Residencial. Lembro-me de uma vez, termos problemas com um Inglês no bar. Ele levantou a voz e pensei que iriam mesmo chegar ao confronto físico. O homem tinha sido um soldado de uma tropa especial. Era enorme e musculado. Eu meti-me no meio para acalmar a coisa. Mas ele logo de imediato proferiu: "Se te metes, eu mando-te pela janela", achei por bem retroceder. A minha sogra é que avançou, agarrou-lhe o pescoço, encostou-o ao pilar do bar de levantou-o em peso. Só ficaram as pontas dos pezinhos dele no chão! 
Eles achavam por vezes que eu poderia achar tudo aquilo um pouco estranho, eu achava-os simplesmente uma família unida e linda (reconheço que minha paixão pela Cristina tinha a sua influência).
A Graça de Deus neles foi incrivelmente abençoadora na minha vida. Não gostavam de legalismos e isso era como um bálsamo para mim que levava o peso da obrigação de ser melhor homem que o meu pai! Aprendi a "gozar a vida" no meio do trabalho e das responsabilidades. Meus sogros foram os meus principais discipuladores nesta fase da minha vida! Só lamento ter um pouco abandonado a minha mãe nessa altura...

domingo, 29 de setembro de 2013

Suicos aqui

Foi estranho, para mim, perceber que varias familias cristas de origem suica estavam a viver aqui no Algarve!
Sair de um pais rico para este que era, para muitos, um atraso de vida!
Percebi, com o tempo, que eram missionarios! Pessoas que deixaram tudo e todos os que tinham no seu Pais para trabalhar na propagacao do Evangelho de Jesus Cristo ca em Portugal.
Gente simples mas firme em seus propositos. Compreende.se! Quem deixa tudo espera muito!
Ele pregavam dentro e fora de portas, lideraram e ajudaram na construcao de um centro de acampamentos destinado a realizar retiros que ajudassem as pessoas a se aproximarem de Deus e das sua nova famlia em Cristo Jesus!
Trouxeram filhos que nao tiveram o acesso a cultura e a educacao dos seus respectivos paises. Nao conviveram com as suas familias.
Tudo por amor a Deus e ao proximo. Nao eram perfeitos, era facil perceber, mas eram exemplos e que exemplos! Minha mae encontrou neles o amparo que ninguem mais lhe deu, nem a propria familia. No Natal, la vinha o casal Eicher com uma caixinha de bolachinhas para desejar bom Natal, bolachinhas feitos por Madame se faz favor! O Ernesto tambem era bom cozinheiro. Quase perdeu um dedo na construcao da Igreja de Olhao na qual ja referi anteriormente ter trabalhado.
O casal Mulheim tinha paixao pela formacao de lideres, desafiava.nos incansavelmente a trabalhar para Deus! Eram eximios administradores de objectivos, pessoas e ministerios.
Seria facil apontar os erros cometidos, mas eu, que desisti de um projecto missionario por ter chegado a exautao nao tenho moral para falar. So posso agradecer a estes homens e mulheres que, frutos de um despertamento que teve inicio no Pais de Gales se espalharam pelo Mundo levando a maior prova de amor alguma vez manisfestada, Dar a vida de um filho unico em sacrificio de quem estava indo directamente para um penhasco sem fim!

sábado, 21 de setembro de 2013

Encontros

Já namorávamos, agora a nossa vida consistia em falar de longe ao telefone, pois a Cristina estava em Vale Judeu  eu em Olhão e agora vou dizer uma daquelas frases que nunca pensamos que algum dia iremos proferir: " Nessa altura ainda não havia Internet nem sequer telemóvel para qualquer comum dos mortais!".
Como é possível? Não faço a menor ideia mas sei que esse tempo existiu mesmo. Eu falava do telefone das centrais da Telecom, Empresa em que trabalhava. As vezes em Albufeira, outras vezes no Ameixial ou mesmo até no Zambujal (esta foi só para que fosse de A a Z)!

Conversávamos longos minutos, sobre o quê? Sobre tudo e sobre nada, gostava de ouvir o seu tom de voz, lindo, calmo, seguro e talvez até sedutor!

Pois, não era fácil estar com ela e não poderia  ir constantemente de carro para estar com ela, era muito longe, muito dispendioso...

Começamos a trabalhar juntos com os jovens da sua Igreja, a ajudar no princípio até que já fazíamos parte do núcleo que dirigia estes encontros. Foram tempos gostosos e cansativos, de muita aprendizagem, em que fomos tomando consciência do quanto precisávamos ainda aprender.

Os encontros ocorriam em Faro aos Sábados à tarde. Havia pessoas incansáveis que transportavam os jovens de bem longe para poderem estar connosco. Lembro-me de duas em especial, o meu sogro, o Ezequiel e o Senhor Bexiga, missionários sem título nem prestígio mas de grande coração, que vinham e iam incansavelmente, semana a semana! permitindo que toda uma geração tivesse acesso ao convívio e ao ensino da Palavra de Deus!

Acabo com uma frase que ouvi algures: "Éramos felizes e não sabíamos"

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Meu Citroen Diane

O trabalho na Obra da Igreja estava chegando ao fim. Teria que começar a procurar outro trabalho. Facilmente o consegui nas obras no novo centro de Saúde. Como era novo e estudava na área da Construção, Foi-me dada a responsabilidade de acompanhar uma equipe de trabalho. Foi um tempo interessante. Mas o meu interesse estava mais voltado nas instalações e nas condições de trabalho dos empregados de origem africana do que no progressão da obra. 
À noitinha, ia ter com eles. Eram momentos mágicos. Uma fogueira. Conversas e risos. Eles dormiam em contentores. Eu não tinha pena, só desfrutava. Percebi logo nessa altura que não tinha têmpera de líder.
Queria ouvi-los, percebê-los e compreendê-los. 
Também percebi que a forma como a obra decorria não tinha jeito nenhum. Entendi que tinha de dar o salto. Nessa altura, um irmã da Igreja me fez um proposta de concorrer para uma grande Firma de telecomunicações da altura. Aceitei logo com muita excitação.
Tinha dezassete anos, força e vontade. Ela avisou-me que não iria ser um trabalho fácil. O trabalho consistia na reparação de cabos exteriores da rede telefónica em todo o Sotavento Algarvio. Trabalhava-se sempre ao ar livre, ao sol e a chuva mas o ordenado era muito bom. Era uma firma estatal, havia mais direitos que deveres. Deu para tirar logo a carta de condução e para comprar o meu primeiro carro; Um lindo e velho Citroen Diane Branco!! Eheh! Que aventuras eu vivi neste autêntico Jipe do pobre...

sábado, 2 de fevereiro de 2013

A excursão


Tinha prometido a mim mesmo nunca vir a casar para não correr o risco de ter uma vida parecida a vida dos meus pais. Claro que o desejo existia em mim mas o medo era maior que o desejo e precisei perceber (e ainda preciso muitas vezes relembrar) que nesta área como em tantas outras, a vida do Cristão tem de ser vivida com os olhos postos em Deus e não nas dificuldades humanas ou nos seus defeitos.
Houve várias meninas que, na escola, simpatizaram por mim. Outras houve, em que o interesse era todo meu. Mas nada muito especial. Uma vez simpatizei com uma rapariga muito linda e educada que me convidou a passar o fim-de-semana com o seu grupo de amigos numa ilha. Mas para a minha tristeza, vivíamos em mundos totalmente diferentes. Passaram dois dias a contar as viagens que faziam, as prendas que ganhavam e eu, ficava calado a espera de poder participar mas faltavam-me os recursos…


Minha irmã e eu fomos convidados a ir a uma excursão. Fomos sem grandes expectativas. Os jovens eram poucos. O programa era simples. Mas lá fomos os dois dar uma volta pelo Barlavento Algarvio.
Para minha surpresa, mais ou menos trinta quilómetros depois de termos iniciado a nossa viagem, fizemos uma paragem breve para podermos assim colher, de caminho, mais uma pessoa que iria participar da nossa excursão.
Espreitei, por simples curiosidade, quem iria subir e aí foi o choque! uma linda e esbelta rapariga de cabelo escuro, com uns olhos grandes e brilhantes envoltos numas formas asiáticas que a tornavam exótica e ainda mais atraente. Para a minha grande satisfação, os nossos olhares se cruzaram. Felizmente eu estava sentado, caso contrário, não sei se eu iria aguentar em equilíbrio.
Falamos, durante o passeio, mas percebi logo que ela não era de muitas falas. Mas ria-se das minhas parvoíces e fazia-me sentir no céu!
Soube mais tarde, que não foi mais expansiva por achar que a minha irmã era a minha namorada…
Será que eu iria voltar a vê-la?

sábado, 26 de janeiro de 2013

S.A.S.E. (Servicos de Acção Social Escolar)


Durante um ano ainda levei a sério o Futebol. Treinava incessantemente. Jogava praticamente sempre na equipa principal. Gostava de viajar, de conhecer novas cidades. Até dormíamos, por vezes, em residenciais. Mas tratava-se de jogar na primeira divisão de juvenis com equipas muito boas. As derrotas foram muitas e não tivemos o nível necessário para permanecer na principal divisão.
No meu segundo ano neste escalão, fui preterido em favor de um rapaz de origem africana muito mais alto, forte e velho do que eu. Certo dia, estávamos a treinar quando o massagista chamou meu concorrente para lhe dizer que a esposa estava ao telefone para o avisar de que o seu filho mais velho estava doente…Isso fez-me perceber melhor os meandros deste desporto e de como seria difícil para um jogador razoável, como eu era, furar neste mundo bem complicado.
Na escola, foi na disciplina de Educação Visual que eu me destaquei mais. A professora acreditava tanto no meu valor que, perante minha vontade de desistir dos estudos para ir trabalhar, me pediu para tentar pedir o apoio social da Escola para que pudesse então continuar. Mas ao chegar lá, encaminharam-me para um homem sisudo, que olhou para mim e disse: “Não tens vergonha de te querer tornar um chulo do estado”. Informou-me quais eram os papéis que deveria preencher e não voltei lá mais.


Comecei então a procurar trabalho e a falar disso com a minha mãe. Ela não concordava e estava pronta para se sacrificar (mais ainda) para que tanto eu como a minha mana continuássemos a estudar. Mas eu estava decidido. Iria estudar a noite e trabalhar durante o dia. Por acaso, a Igreja que eu frequentava estava a contruir um novo templo. Ofereceram-me um trabalho provisório como servente de pedreiro que eu aceitei com alegria pois iria ter a companhia de pessoas que conhecia, algumas delas com a minha idade.
Foi o meu lançamento vertiginoso e ingénuo na idade adulta. Eu estava cheio de autoconfiança, de força e de esperança que poderia ainda vir a ser um grande construtor (área de trabalho da maioria dos meus familiares em França) que com os lucros, poderia vir a construir moradias para os pobres, em África. Não consigo reter um sorriso, ao pensar nisto, mas não me envergonho deste jovem que fui; sonhador, ingénuo, ambicioso e talvez até um pouco altruísta.

sábado, 12 de janeiro de 2013

Ao chegar a minha cidade deparei-me com um mundo totalmente diferente. Parecia que o meu acampamento tinha durado anos e que regressava agora de uma terra imaginária.
Voltei cheio de vontade de mudar o mundo e comecei logo a falar daquele que mudara a minha vida. Qual não foi o meu espanto quando percebi que esta mensagem não era bem-vinda pela maioria das pessoas interpeladas, mesmo que fossem já minhas amigas.
Felizmente, a minha mãe, ao ver em mim uma mudança tão drástica também ficou entusiasmada e mais tarde numa reunião de casa, na casa duma vizinha, também ela teve seu Encontro com Jesus.
Eu percebi mais tarde que não era pela força que se deveria comunicar esta mensagem. Deveria também ser mais calmo, pois com a minha motivação por vezes excedia-me e quase magoava as pessoas que não estavam interessadas ou simplesmente não acreditavam!



O futebol deixou de ter o interesse que tinha para mim. Gostava de jogar mas a competição feroz que se vivia e o que eu costumava fazer em campo passava a ser para mim intolerável.
Comecei a frequentar o grupo dos jovens da igreja, um grupinho de mais ou menos 12 pessoas. Eu esperava um ambiente um pouco chato mas pelo contrário, apesar de sermos poucos, havia alegria, jogos, concursos e cantava-se muito. Eles chamavam isso louvor, e consistia simplesmente em reconhecer os bem-feitos de Deus na suas vidas.
Não eram jovens tão encantadores como os heróis da minha escola mas eram certamente mais saudáveis. E quando digo saudáveis, não falo só do físico mas sobretudo da saúde da alma, do espírito. Nunca me tinha sido falado da nossa "parte" imaterial. Mas tinha sentido que a vida fosse mais do que simplesmente aquilo que se vive aqui durante algum tempo. Eu costumava sonhar com a morte, nesses pesadelos imaginava meus possíveis fins repentinos. Não percebia o porquê de a vida ter um começo somente para acabar num fim tão inglório, tão seco, tão vil. Deixei de os ter e passei a ter esperança no futuro, não só aqui na terra mas sobretudo no futuro eterno que me esperava apenas por ter aceite o que Jesus conquistara por mim.
A minha irmã chegou a ir comigo também, as reuniões, mas nunca simpatizou muito; nem com a mensagem ,nem com as pessoas que a proclavam.
Começou então outra fase, o fim do encantamento, o colher imediato das minhas recentes decisões...

sábado, 5 de janeiro de 2013


Uma grande quinta. Um jardim cheio de flores. Muitos jovens. Alegria e confusão. Duas raparigas dão-me conversa. Fico logo a pensar que estão impressionadas com a minha beleza natural…


É que não estou habituado a aproximações sem interesse secundário. Não que eu nunca tivesse conhecido ninguém simpático. Não é isso. Também não estou a insinuar que todos eram "perfeitinhos". Mas percebi que eles sentiam-se livres e felizes. Tudo isto é relativo a não ser quando se vive afundado no desespero de um futuro incerto.
Brincamos, rimos, jogamos futebol. Tive minha oportunidade de mostrar tudo o que eu valia em campo quando ninguém mais estava a jogar nesse espírito…
Comemos juntos. Havia disciplina, pois tinha de ser, pois nós éramos cerca de oitenta a cem jovens.
O que me aconteceu no serão foi totalmente fora das minhas expectativas. Eu nunca poderia imaginar que acontecesse tal coisa. Meu pai era comunista e nem admitia que nós frequentássemos uma igreja qualquer que fosse. Minha mãe era católica não praticante e desiludida com o sistema. Eu não tinha bases religiosas  a não ser o que se falava por aí.
Um senhor lá à frente falava. E chegou uma altura em que as suas palavras penetraram no meu mais íntimo ser.
Ele falou no amor de Deus. Algo que eu estava a espera. Mas também falou na razão de não experimentarmos esse amor. Do facto de sermos pecadores e estarmos separados de Deus pelo nosso pecado e que Ele não podia, por esse motivo, se relacionar connosco.
Lembrei-me do meu Pai e dos seus erros. Mas também me lembrei dos meus. Antes de ir para o acampamento, tinha sido bruto com a minha irmã e bebia cada vez mais e isso fazia-me sentir mal.
O comunicador continuou afirmando que só Jesus Cristo poderia resolver este problema. Que já o tinha resolvido na Cruz do Calvário pagando o preço dos nossos erros com a sua própria vida. E que não só Ele tinha morrido mas que também tinha vencido a morte ao ressuscitar e que nos abriu assim o caminho para a comunhão com Ele e para uma Vida tão eterna como também cheia de qualidade.
O palestrante desafiou-nos a aceitar esta dádiva fazendo algo que nunca eu fizera em toda a minha vida: Falar com o próprio Deus convidando-o a entrar na nossa vida e preencher o vazio que só ele poderia preencher. O que fiz sem hesitar!
Foi realmente tremendo. Eu sei que não tem que ser assim tão tremendo para todos. Mas para mim, foi algo incrível. Toneladas de paz e alegria me preencheram.
Nunca mais fui o mesmo.
O acampamento acabou. Eu ia retornar para a minha realidade. Iria esta experiência aguentar o teste do regresso ao trapézio sem rede…