sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Foi o período em que, talvez, eu me senti um pessoa normal e porque não dizê-lo, até certo ponto, sentia-me um exemplo. Imagino que o leitor poderá achar que eu era bem arrogante e de certa maneira eu penso que o era, se bem que de uma forma inconsciente. Éramos um casal jovem, saudável, lindo(eheh) e tínhamos um filho perfeito. Eu tinha um bom emprego. Éramos activos na nossa comunidade. Enfim tudo ia andando sobre rodas.
Lembre-me, por vezes, de ficar intrigado por ser confrontado com vidas de amigos, familiares ou colegas que eram difíceis, cheias de problemas, doenças e dificuldades de toda a ordem. Comecei a pensar que era possível que tivesse sido escolhido para ser uma referência, aliás, isso era-me afirmado várias vezes por pessoas que nos conheciam.
Bom, havia um senão, o meu trabalho era difícil para mim, não tinha nada a ver com as minhas qualidades. Eu não era práctico. Não consegui evoluir. Não tinha jeito para a matemática, para a lógica e a orientação no espaço era-me muito complicada. Nós reparávamos avarias de cabos telefónicos. Eu sentia-me como um rato da cidade não meio de um imenso campo cheio de obstáculos que eu nem conseguia reconhecer quanto mais combater...
E aí vem a Bomba...O líder da nossa igreja desafia-nos a pensar em ir estudar para uma escola bíblica a tempo inteiro. O nosso pequeno mundo "perfeitinho" foi abanado. Isso implicava deixar o nosso emprego, a nossa família, os nossos amigos e até o nosso país. O objectivo era crescer como pessoas, como líderes e como conhecedores da Palavra de Deus.
Que luta começara no mundo dos nossos pensamentos. É incrível como um dado pode transtornar toda uma estrutura. Nosso líder explicava que esta "obra" tinha de ser fundada na fé em Cristo e não nas nossas capacidades. Eu achava extraordinário o facto de poder ter mais tempo para dar aquilo que mais mexia comigo.
A Cristina apoiava-me. Nós tínhamos a convicção de termos sido chamados a ser missionários numa conferência, na Suiça, que se destinava justamente a desafiar jovens de vários países a entregarem as suas vidas à obra missionária em todo o mundo!
Sentíamos grandes lutas, indecisões: porquê nós? seríamos nós capazes? nossos dons encaixariam na exigências das tarefas que seriam esperadas? Parecia que a necessidade era mais pastoral do que missionária e não nos víamos como um casal que ficaria a frente de uma igreja local já implantada...
O que iríamos decidir, qual era a vontade de Deus nisto tudo? Tínhamos mais umas semanas para tomar todas as providências e assim iniciarmos, ou não, a grande aventura das nossas vidas...