quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Qual é o proveito de deixar tudo por amor a Cristo

Há muitas perspectivas sobre deixar tudo e mudar de vida. Muitos fazem-nos sem ser para agradar a Cristo. 
No nosso caso, e para não correr o risco de mentir, no meu caso, o que foi bom nesta experiência de deixar um emprego estável num grande companhia para ir aprender mais da Palavra de Deus e aprender a Servir melhor?
Deixar tudo, perder pontos neste mundo é talvez a experiência que mais nos pode levar a uma situação que revele, afinal, quem nós somos e em quem contamos para avançar.
Alguns vêm os empregos, as contas bancárias e os bens  como o garante da saúde da sua alma(não que eu não seja assim muitas vezes! Infelizmente). Quando deixas tudo, percebes muito melhor a Bíblia e os sermões de Jesus Cristo. De repente tudo faz mais sentido. Não é preciso ler livros e livros para perceber que a prática é "tudo", desde que nunca abandonemos a Palavra.
Ir estudar para a Suiça enfraqueceu-me, tornou-me vulnerável, dependente de Deus, dependente dos outros mas não no sentido em que há uma espera, uma expectativa, é simplesmente que sabemos que Deus terá de mexer com alguém para levarmos o nosso barco à bom porto pois já não temos mais nada para dar.
A fé Nele era a garantia mas não me garantiu um estado de super espiritualidade, muito pelo contrário, os meus podres e fraquezas sobressaíam como nunca perante os desafios para os quais eu não tinham garantias de ser capaz de ultrapassar.
Conheci realidades e pessoas que não poderia conhecer onde vivia. Pessoas que não têm nada há muito tempo mas têm tudo. Pessoas que têm tudo mas consideram isso como esterco. Pessoas que aguentam situações de muita pressão e que poderiam estar "bem na vida" mas não estão! Porquê? por amor a Deus e ao Homem.
Conheci outras mentalidades. Percebi que tudo não tem de ser como é. Que ter fé não é ser fatalista! Percebi que os títulos não querem dizer nada se não forem acompanhados de sentido. Descobri que quando não há posses, uma tarde de marcha, umas bolachas e um chá podem dar toda a felicidade do mundo e ainda podem ser partilhadas com alegria com mais umas quantas pessoas.
Descobri toda a miséria do ser humano sem Deus dentro e fora da igreja institucional. Percebi que Cristo tem de viver em nossos corações mesmo. 
Também entendi que a cultura na qual vivemos tem muita influência na nossa maneira de pensar! A nossa cultura nos cega em muitas áreas mas temos a tendência de só condenar a cultura dos "outro". Percebi que havia imensa coisa boa na cultura Suiça, se calhar, se não fosse a minha paixão por Portugal, teria ficado por lá pois o sentido das coisas serem como são e devem ser torna-se quase oxigénio para o cérebro ao fim de alguns meses.
Conheci a história de povos pelos quais eu não teria o mínimo interesse e descobri que esses povos fizeram muito pelo meu sem que eu disso tivesse a mínima noção.
Viajar com Cristo, não viajar por viajar, Ir e fazer discípulos é a melhor maneira de passar a progressivamente ser um!

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

O grande erro

A equação era simples. Desistir de seguir a vontade de Deus e entrar no molde ou enfrentar tempos muito difíceis e de solidão...
Aí, de repente, foi como se toda a minha vida me passasse a frente...afinal, no meio cristão, as coisas funcionavam como nos outros sítios, interesses, razão, planeamento, necessidade, manipulações, pressões...
Não, não enganamos ninguém, aceitamos o apelo feito por Deus numa conferência missionária da nossa denominação e saímos com esse propósito que foi abençoado pela liderança!
Mas não, as coisas não são assim, a presente necessidade da estrutura era outra.
E o povo não sabe o que se passa na cúpula...
Não não percebemos na hora certa como funcionavam as coisas, senão, senão nunca teríamos embarcado. Não se trata de não querer seguir a Cristo. Trata-se de perceber que como os Católicos têm as suas tradições que os impedem de seguir só a Cristo, nós também temos as nossas.
E fugi mais uma vez. Não falei com o  nosso director para não fazer ondas e regressamos no fim do ano lectivo para Portugal e aceitamos entrar como obreiros na esperança de que as coisas mudassem depois, como por milagre...erramos!
O director não compreendeu, eu estava em choque, ele mandara uma carta para seis líderes de Portugal a denunciar meu comportamento em palavras que eu nem tenho coragem de reproduzir aqui.
Anos mais tarde, num quartinho, ele me pediu perdão e reconheceu que a nossa denominação não estava preparada para missões, que eu tinha razão na altura. Mas ninguém soube isso, ninguém viu, não foram mandadas outras cartas para os mesmos líderes a desfazer o erro...
Como eu amo Jesus Cristo! o Filho de Deus, incompreendido, injustiçado, mal tratado, morrendo só, por amor, por mim, antes mesmo que eu o perceba! Que loucura, parece desperdício! A loucura da Cruz, o amor divino contra a tolice humana...
É tão difícil dar sem interesse, é preferível construir creches para os nossos filhos, lares para os nossos velhos, centros de acampamentos para os nossos jovens do que ir longe e dar sem retorno...que loucura! Que desperdício, há tanta necessidade aqui...Ainda hoje, Portugal continua a receber obreiros de todo o mundo mas poucos são aqueles que nós mandamos. E a pobreza não é desculpa pois, por exemplo, a Suiça foi uma grande potência missionária quando ainda era pobre.
A busca pelos bons feelings, o bom "Louvor", o bom ambiente reduz nossa audição perante a voz, por enquanto, suave de Jesus Cristo que continua a ordenar: "IDE!"

sábado, 6 de agosto de 2016

Caminhos cruzados

Através do estudo e das experiências adquiridas íamos cada vez mais chegando à conclusão de que o nosso lugar seria em missões. Estávamos muito felizes pois essa já era a nossa convicção antes de partirmos para a Suiça e cada vez mais o nosso coração ardia por fazer parte do trabalho missionário em qualquer parte do mundo, se bem que o nosso coração ardia por concelhos ainda não alcançados de Portugal.
Depois daquela infeliz situação da escolha do nosso director de estágio, escolhemos então um pastor de Marselha que trabalhava em equipa numa pequena igreja dos irmãos e que fazia trabalho de rua e trabalho com música.
Estávamos muito entusiasmados. Um dia recebemos a visita de um pastor Suíça que pertencia a nossa denominação que nos perguntou quais eram os nossos planos. Explicamos, eufóricos, como quereríamos passar o estágio de segundo ano, cientes de que era essa a vontade de Deus. Ele ouviu-nos atento e retirou-se após uma breve conversa.
Nós recebemos a indicação de que deveríamos fazer um orçamento das nossos futuras despesas para que comunicássemos claramente à nossa igreja o sustento que iríamos precisar. O que fizemos com muito trabalho e dedicação de forma a não defraudar as muitas pessoas que nos iriam apoiar.
Eis senão quando, um dia, recebemos um telefonema do nossa pastor em Portugal com uma voz bem severa afirmando de que a necessidade da nossa denominação era de pastores e não de missionários e que teríamos de fazer o estágio com um pastor e ele tinha de ser da nossa denominação e por acaso, esse Senhor era quem nos tinha visitado alguns tempos antes.
O problema é que precisávamos da ajuda que nos prometeram para os próximos três anos só era válida se fôssemos por este caminho.
Ficamos aterrado...o director já nos tinha avisado de que estas coisas poderiam acontecer e tinha-nos pedido que o avisássemos se isso acontecesse. Nós nós tivemos coragem. Ficamos em choque, o que seria de nós agora, o que fazer, como proceder.
Ainda tivemos forças para entregar o orçamento, pois poderíamos vir a receber ajuda das igrejas Suíças, mas entendemos, de repente que a nossa situação estava bastante complicada.
Tínhamos gasto todo o nosso dinheiro nesse ano na Suiça pois tudo era imensamente caro para um Português.
O que fazer, obedecer à chamada ou à vaga de emprego disponível...